Antes de iniciar essa “aventura
jurídica”, gostaria de pedir, humildemente, licença. Pretendo esboçar um pouco
sobre a minha vida e o motivo que me levou a criar este blog. A história
é interessante e inspiradora.
Sou cuiabana, mudei-me para Brasília
com apenas três anos, e nunca mais voltei para minha terra natal. Sou a nº 04
de uma família com 05 filhos e sempre tive em casa vários exemplos fantásticos
de honestidade, esforço e dedicação. Meu pai, meu herói e meu ídolo. Minha mãe,
minha fortaleza e minha fonte de vida. Minha irmã mais velha, Kakazinha, que é
a pessoa mais doce e divertida do mundo. Minha irmã Érika, que sempre foi a
mais linda e inteligente de todas as pessoas que eu conheci na vida. Meu irmão
Eduardo, a pessoa que correu atrás de seu sonho, independentemente do que os
outros planejaram para ele. E minha caçulinha linda, Maria Eduarda, que nasceu
quando eu vivenciava a adolescência e eu “adotei” como minha irlha – irmã com
filha.
Vivenciei os esforços de meus pais
para mudarem de vida. Minha mãe é uma guerreira invejável, que batalhou duro e
conseguiu voltar a estudar, se formar e passar em vários concursos após anos de
vida doméstica, com quatro filhos e muitos sonhos. Quando ela passou na
Secretaria de Educação do DF e estabilizou sua vida, teve mais uma filha
(detalhe: aos 45 anos de idade). Meu pai, recebendo o apoio dessa heroína aí de
cima, se formou em História na Universidade de Brasília aos 53 anos, pois
durante toda a vida sustentou a casa e os filhos, trabalhando muito… No mesmo
mês, minha irmã Érika, também, havia se formado em Biologia, com 24 anos, mas
já havia tomado posse como técnica judiciária no TJDFT aos 19 anos.
Eu cresci nesse ambiente acadêmico, de
pessoas só estudando, e trabalhando, e lendo, e pesquisando, e estudando um
pouco mais. Meus presentes de aniversário eram livros sobre contos de fadas, o
sítio do pica pau amarelo, coletâneas da Disney para dormir. Quando eu fiz 15
anos, não tive festa de debutante, e minha mãe fez algo muito melhor: me deu a
coleção de “O Senhor dos Anéis” (simplesmente amei – my precious).
Como estudar era a lei que reinava lá
em casa, não tive muito para onde correr e fui estudar. Fiz o PAS – Programa de
Avaliação Seriada, oferecido pelo CESPE, para que os alunos do antigo ensino
médio tivessem a chance de passar na UNB sem a necessidade de passar pela
pressão do Vestibular. E foi assim que eu consegui minha vaga de Letras –
Espanhol, aos 17 anos. Nessa época, eu já falava Inglês e Espanhol, e gostava
da ideia de dar aula (será que era porque minha mãe era professora?). Assim que
passei e comecei a fazer minha faculdade, minha genitora me falou: “agora você
vai estudar para concursos”.
E lá fui eu estudar para concursos,
com 18 anos, sem ter noção nenhuma do que eu deveria fazer. Lembro-me de abrir
a Constituição Federal, ler o artigo 1º, folhear as páginas, perceber que era
“pequena” e perguntar para minha mãe: “Mãe, cadê as leis? Não era para estar
aqui junto da Constituição?”… Não, fia! Pois é. Dificuldade todos nós passamos,
e a subida sempre começa pelo primeiro degrau.
Pois bem. Nesta época, obviamente, dei
trabalho para meus pais e arrumei um namorado. Pensem naquele cara que, quando
você apresenta para os pais é para “causar”: cabeludo, metaleiro, baterista,
camisa preta, calça jeans, all star sujo nos
pés. Essa pessoa era minha cara metade (para matar meu “velho” do coração, não
é mesmo?). Continuei estudando para concursos, fazendo Letras – Espanhol e namorando.
Com 19 anos, engravidei.
No começo, é sempre um choque dar essa
notícia para as pessoas que você mais respeita na sua vida, principalmente
quando a sua irmã mais nova tem apenas três anos de idade, e a irmã que já
trabalha há anos, que é formada, que está no relacionamento sério, ainda não
deu nenhum neto para seus pais. Pior ainda é quando, antes da sua irmãzinha de
três anos, está você e mais ninguém, podendo-se dizer que, tecnicamente, você
era a mais nova da prole. Ainda tem aquele irmão músico, que poderia ter dado
um neto para esses pais. Mas não, tinha que ser eu, a pessoa que só estudava.
Mas ainda bem que fui eu, pois foi melhor coisa que já aconteceu na minha vida!
Tive grande dificuldade nessa época.
Não era casada, desempregada, morava com meus pais, e meu namorado não tinha
muitas ambições. Grande desafio pela frente e percebi que o homem demora a
amadurecer (desculpem os homens, mas esse fato é científico). Então, com aquela
barriga de oito meses de gravidez, fui fazer a prova mais importante da minha
vida: cargo de técnico judiciário do TJDFT. Já tinha sofrido várias reprovações
nessas provas dificílimas de concurso. E afirmo categoricamente: quem fala que
concurso público é fácil está mentindo. Não é. E não é fácil para ninguém. Não existe
fórmula mágica para passar. É estudando muito e cada vez mais.
Fui fazer a prova no dia 02/03/2008.
No dia 24/03/2008, minha filha linda nasceu. Parei de estudar e passei a ser
mãe. Em abril/2008 saiu o resultado do concurso e eu tinha ficado em 318º.
Chorei muito. Me desesperei. Minha irmã, que já trabalhava lá nessa época, me
ligou superfeliz para dar os parabéns, que eu seria chamada… e eu não
acreditei. Achei que essa colocação era muito ruim e que eu não conseguiria
tomar posse, só me restando terminar a Faculdade de Letras e dar aulas. Mas não
é que eu fui chamada? E foi rápido demais. Em agosto recebi aquele telegrama
maravilhoso (não sei como ocorrem as convocações hoje em dia, mas em 2008 eles
mandavam um telegrama). No dia 12/09/2008, tomei posse como técnica judiciária,
quando Malu tinha quase seis meses, o que foi perfeito.
Comecei a trabalhar no mesmo local em
que Érika trabalhava, na 14ª Vara Cível de Brasília. Era tudo tão empolgante,
novo, envolvente. Comecei no atendimento ao público. Minha irmã me contou que
era um serviço extremamente cansativo, porque balcão de Vara Cível tem ritmo
frenético, com inúmeros processos e problemas sem fim, razão pela qual ninguém
gostava muito desse serviço. Mas eu gostei. E quis aprender sempre um pouco
mais da rotina de um cartório.
Passados uns meses, quando Malu
completou um ano e três meses, mais uma vez minha mãe falou: “agora você vai
fazer Direito”. Sem terminar a graduação em Letras, comecei a fazer meu curso
de Direito. Comecei no Uniceub e comecei bem. Tirava boas notas e conseguia
trabalhar, estudar e cuidar da Malu. Mas as contas começaram a ficar maiores do
que o que eu recebia. Então mudei de faculdade. Fui para o Projeção, em
Sobradinho. Nesse momento, enfrentei dificuldade com a locomoção: sair de
Sobradinho, e ir trabalhar no Plano. Então, pedi remoção para o Fórum de
Sobradinho, sendo lotada na Vara Criminal. Trabalhei por um ano, o que me deu
uma experiência muito boa e legal, mas que eu detestei. Descobri que o crime
não compensava para mim, porque me envolvia com aquelas vítimas e aqueles
processos. Apesar de ter aprendido muito, aquele não era o meu lugar. Pedi para
voltar para a equipe da 14ª Vara Cível. Isso ocorreu em 2012 já, alguns anos
depois da minha irmã Érika sair do TJDFT e assumir o cargo de Especialista em
Recursos Hídricos da ANA – Agência Nacional de Águas. A equipe da 14ª me
aceitou de volta. E eu saí do Projeção e fui para o IESB, de volta para o Plano
Piloto.
Quando voltei, aprendi cada vez mais,
atendi ao público, comecei a me inteirar acerca do trabalho de um gabinete. E
gostei. E fui desempenhando minha função pública da melhor forma que eu
conseguia. Tentei conciliar entre os estudos, o trabalho, e a vida de mãe.
Lembram daquele namorado “dorme sujo”? Casei com ele. E já estávamos
esperando nosso segundo filho. Construímos uma casa em Sobradinho, no mesmo
lote da mãe dele e estamos criando nossos dois filhos. Ele cortou o cabelo,
mudou as roupas, comprou sapatos, estudou. Em 2013 tomou posse no DNIT e em
2015 assumiu como técnico judiciário do Conselho Nacional de Justiça. A
história dele é muito legal também, mas eu não vou contar. Deixa-o criar o blog
dele.
Desde 2012, quando retornei para a
equipe da 14ª Vara Cível de Brasília, comecei a acompanhar a juíza titular para
onde ela resolvesse ir. Aqui, se me permitem, preciso externar minha admiração
pelas duas pessoas mais incríveis que eu conheci naquele Tribunal: a minha
Diretora de Secretaria e a minha Juíza. Todas as pessoas com quem já trabalhei
são louváveis e maravilhosas. Tive muita sorte. Mas essas duas se destacam,
porque criamos um vínculo de amizade que ultrapassa a esfera empregatícia
(graças a Deus).
Continuando, acompanhei a juíza para o
2º Juizado de Fazenda Pública, para o 6º Juizado Cível e para a Turma Recursal.
Cada lugarzinho desses me trouxe uma experiência incalculável. Formei-me em
Direito em 07/2016 e, em seguida, fiz uma Pós em Direito do Consumidor, que
concluí em 04/2017. Atualmente, estou estudando Psicologia Jurídica.
Foi o trabalho do Tribunal que me
encaminhou para este blog. A práxis
forense é muito diferente daquilo que lemos nos livros de Direito. Sou
assessora e acompanho diariamente a mudança na jurisprudência, nas leis e,
principalmente, na sociedade. O trabalho de um Juizado Especial é o que mais se
aproxima do cidadão. Foi no intuito de passar a minha experiência, de passar
alguns casos que já foram julgados pelo 6º Juizado (minha atual lotação), que
este blog está
aqui. E não só isso. Tirar dúvidas, prestar esclarecimentos, mostrar a Justiça
pelos olhos de alguém que está lá dentro: não alguém que “pegou” casos famosos
de pessoas criminosas milionárias e políticas. Não. Casos de pessoas simples,
que acham a justiça quando procuram, mas que não ganham enfoque. São os
coadjuvantes da sociedade e que fazem toda a diferença.
Neste espaço de estudo e divulgação, o
estimado leitor encontrará várias portas para abrir. É um pequeno trabalho
despretensioso, mas que apresentará temas interessantes para leitura, debate,
conversa. Ora serão apresentadas notícias publicadas sobre processos que eu
atuei, ou simplesmente processos com temas interessantes, ora serão feitos
artigos acadêmicos ou científicos sobre as mais diversas áreas do Direito.
É um pequeno projeto sobre algo grandioso para mim: a Justiça. Espero que gostem.💕
É um pequeno projeto sobre algo grandioso para mim: a Justiça. Espero que gostem.💕
Sejam todos
bem-vindos. Fiquem à vontade.
Com carinho,
Samara Luiza
de Castro Pereira Hessen
Currículo: http://lattes.cnpq.br/7485890657664931
Currículo: http://lattes.cnpq.br/7485890657664931